Em 2021, 11 áreas de sal-gema no Espírito Santo foram leiloadas pela Agência Nacional de Mineração (ANM). Exploração em três áreas foi suspensa por interferir em territórios quilombolas. Sal gema
Tawatchai/Freepik
A maior jazida do sal-gema na América Latina fica no Norte do Espírito Santo, foi descoberta pela Petrobras, chegou a ser leiloada, mas nunca foi explorada. A exploração desse mineral pela Braskem causou o recente colapso de minas em Maceió, onde mais de 60 mil pessoas tiveram que abandonar suas casas após tremores de terras e rachaduras.
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No Espírito Santo, o sal-gema foi descoberto na década de 1970, quando a Petrobras perfurava os entornos da cidade de Conceição da Barra, no Norte do estado, em busca de petróleo. Porém, encontrou uma grande quantidade de sais na região – entre eles, o sal-gema.
Como o foco da exploração da Petrobras não era os minerais, assumiu a subsidiária da mesma estatal, voltada para a mineração, a Petromisa – já extinta. Na época, os trabalhos foram abertos para pesquisar as localidades, que somam 110 mil hectares e quase 20 bilhões de toneladas. A principal jazida fica em Conceição da Barra, mas também há registros nas cidades de Ecoporanga e Vila Pavão.
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Em 2021, 11 áreas de sal-gema no Espírito Santo foram leiloadas pela Agência Nacional de Mineração (ANM) e foram arrematadas por quatro empresas, por um valor de aproximadamente R$ 170 milhões. Três dessas áreas foram alvo de ação do Ministério Público Federal (MPF), que solicitou a exclusão do leilão por interferência em territórios quilombolas.
Políticos se posicionam contra
Após a tragédia em Maceió, representantes capixabas no legislativo têm se pronunciado contra a exploração do sal-gema no Espírito Santo.
O deputado federal Helder Salomão (PT) e a deputada estadual Camila Valadão (PSol) se pronunciaram contra a exploração em território capixaba.
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“Além dos impactos geológicos e ambientais, em virtude da exploração – afundamento de bairros inteiros, como em Maceió – nosso estado quer explorar o sal-gema em áreas de comunidades tradicionais quilombolas e de preservação ambiental, como o Parque de Itaúnas”, declarou a deputada. “Esse processo por aqui, que já está em fase de estudo, não ouviu as comunidades envolvidas, descumprindo a Convenção 169 da Organização Internacional do Trabalho (OIT) que estabelece a consulta ‘prévia, livre e informada’ a povos e comunidades tradicionais”.
Exploração sem legado
A exploração do sal-gema é feita com uma escavação de um poço até a camada subterrânea do mineral. No caso do Espírito Santo, o produto fica a mais de 2 mil quilômetros de profundidade. Canos injetam água na mina. A pressão faz com que a salmoura suba e o sal-gema possa ser extraído na superfície.
Para o professor da Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes), Marcos Tadeu D’Azeredo Orlando, a tragédia em Alagoas era previsível. Além disso, o professor conta que existe tecnologia suficiente para preencher o buraco que a exploração do sal-gema deixa, sem colocar o solo e a população em risco. Porém, segundo ele, isso não foi feito, pois se tivesse sido feito não haveria colapso nas minas.
“A exploração mineral pode ser feita de forma segura. O acidente em Alagoas era previsível. A economia de recursos, por parte das empresas, e a ganância são tão grandes que eles não usam parâmetros de segurança. O método correto é repor a mina com água. O que está errado é fazer isso de forma progressiva, deixar o local vazio. Existem tecnologias de monitoramento, ele é feito, mas não é efetivo. Os relatórios existem, mas na hora das decisões, a mais valia fala mais alto. É uma economia de mercado. Porém, o mercado tem que ser inteligente, não suicida”, considerou o professor.
Para Marcos Tadeu, na exploração do sal-gema não há investimento em tecnologia nem em processamento da matéria-prima que possa agregar valor ao produto extraído. Por isso, para ele, é uma exploração que gera pouco retorno financeiro e em conhecimento para a comunidade local.
“A exploração de minério deixa como herança um buraco. É a única coisa que deixam de herança. As mineradoras exploram e retiram a matéria-prima, mas não existe o plano de transformar esse produto em um recurso tecnológico. É preciso trazer avanços: empregos proporcionais ao lucro, deixar tecnologia no local em que há exploração. Não adianta quando a cadeia produtiva está toda lá fora. É preciso transformar o produto. O processo só de exploração não nos interessa, até porque a quantidade de empregos criada só ali é muito menor do que se houvesse processamento da matéria-prima e desenvolvimento de tecnologia”, descreveu.
Braskem, petroquímica que fazia exploração de sal-gema em Maceió, foi apontada como causadora das rachaduras em bairros de Maceió
Divulgação/Braskem
Maceió
Maceió está em alerta máximo pelo risco de colapso desde o dia 27 de novembro, quando o afundamento do solo sobre uma caverna onde é feita a exploração de sal-gema, do tamanho do estádio do Maracanã, deixou de ser medida por milímetros por ano e passou a ser um afundamento de centímetros por hora.
Mais de 14 mil imóveis, em cinco bairros, estão sendo afetados pela instabilidade causada na exploração de sal-gema pela Braskem. Mais de 60 mil pessoas foram retiradas da região, devido ao risco de desabamento do solo. O colapso na mina 18, localizada no bairro do Mutange, pode abrir uma cratera do tamanho do estádio do Maracanã.
Bairros estão afundando em Maceió
Reprodução/Jornal Hoje
Segundo a Defesa Civil Municipal, o afundamento agora é de 0,25 cm/hora. O solo continua cedendo em ritmo lento e já afundou desde o dia 28 de novembro 1,77 m, segundo Nobre. O ritmo do afundamento do solo caiu pela quarta vez consecutiva nesta segunda-feira (4).
As primeiras rachaduras em casas e ruas que lançaram luz sobre o problema surgiram em 2018. Desde aquela época, além do bairro do Mutange, já houve evacuação também na maior parte do Bebedouro, do Bom Parto e do Pinheiro.
Imagens mostram o comparatvo do avanoço da Lagoa Mundaú na região onde há grande risco de colapso em Maceió
Defesa Civil de Alagoas
Segundo a Defesa Civil, o colapso da mina não representa mais risco para a população porque as regiões ocupadas estão a uma distância segura. Ainda assim, o risco de colapso fez muita gente sair de casa, algumas por iniciativa própria e outras sob ordem judicial com uso da força policial.
A tragédia urbana em curso transforma áreas inteiras em bairros fantasmas, um problema que ainda está longe do fim, já que o solo continua afundando lentamente.
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