Juergen Esser disse à Reuters, na semana passada, que gigante francesa de laticínios parou de importar o grão do Brasil, citando sustentabilidade. Governo brasileiro criticou ‘posturas intempestivas e descabidas’. Produção de soja
TV TEM/Reprodução
A Danone do Brasil negou nesta terça-feira (29) que tenha deixado de comprar soja nacional.
O posicionamento foi feito cinco dias depois de o diretor financeiro da multinacional, Juergen Esser, afirmar à agência Reuters, em Londres, que a gigante francesa de laticínios tinha deixado de importar o cereal brasileiro.
Ele não detalhou os motivos, mas citou, de acordo com a agência, questões de sustentabilidade.
O g1 contatou a sede da empresa, na França, mas não teve retorno até a última atualização da reportagem.
Em um comunicado assinado pelo presidente da filial no país, a Danone do Brasil disse nesta terça que “continua comprando soja brasileira em conformidade com as regulamentações locais e internacionais”.
Também nesta terça, o governo brasileiro divulgou uma nota “em resposta às recentes declarações e ações da Danone e de outras empresas do setor agroalimentar europeu que optaram por interromper a aquisição de soja do Brasil”.
No comunicado, o Ministério da Agricultura critica “posturas intempestivas e descabidas como anunciadas por empresas europeias com forte presença de atividade também no mercado brasileiro”. Mas não cita quais seriam as “outras empresas” que teriam parado de comprar o grão.
Como tudo começou
Na reportagem da Reuters publicada na última sexta-feira (25), um dia depois da conversa com o executivo, Esser não explicou os motivos pelos quais a empresa teria deixado de importar soja brasileira.
“Nós não (obtemos soja do Brasil mais)”, afirmou, segundo a agência, acrescentando que a multinacional agora estava “absolutamente” importando soja da Ásia.
O diretor financeiro disse ainda que “nós realmente temos um rastreamento muito completo, então garantimos que levamos apenas ingredientes sustentáveis do nosso lado”, de acordo com a Reuters.
A União Europeia pretende exigir que as empresas do bloco provem que não estão comprando produtos vindos de áreas desmatadas.
A regra prevê multas de até 20% do faturamento, no caso do descumprimento, e deveria entrar em vigor no próximo dia 30 de dezembro, mas poderá ser adiada por 1 ano.
A reportagem da Reuters citou que, em um relatório de 2023, a Danone disse que usou 262.000 toneladas de produtos à base de soja para ração e 53.000 toneladas de soja na fabricação de produtos de leite de soja e iogurte de soja.
O que disse a Danone do Brasil
Procurada pelo g1 nesta terça, a Danone do Brasil divulgou uma nota: “Podemos confirmar que a informação veiculada não procede. A Danone continua comprando soja brasileira em conformidade com as regulamentações locais e internacionais”.
A empresa disse ainda que “a soja brasileira é um insumo essencial na cadeia de fornecimento da companhia no Brasil e continua sendo utilizada, sendo a aquisição da maior parte desse volume intermediada pela Central de Compras da Danone, incluindo processos que verificam sua origem de áreas não desmatadas e rastreabilidade”.
Assinam a nota o presidente da Danone do Brasil, Tiago Santos, e o diretor de assuntos jurídicos e corporativos, Camilo Wittica.
O que disse o governo brasileiro
O Ministério da Agricultura e Pecuária afirmou que “o Brasil conta com uma das legislações ambientais mais rigorosas do mundo, apoiada por um sistema de comando e controle eficiente e respaldado por uma complexa estrutura de monitoramento e fiscalização”.
“Esse sistema tem permitido ao país combater o desmatamento ilegal com políticas públicas que abrangem o Cerrado, a Amazônia e outras regiões sensíveis, assegurando que a produção agrícola seja feita de maneira responsável e sustentável.”
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O governo também afirmou que considera arbitrárias as normas da lei que que União Europeia pretende implementar, chamada de Regulamento de Desmatamento da União Europeia (EUDR).
“O Brasil considera as normas do EUDR arbitrárias, unilaterais e punitivas, tendo em vista que desconsideram particularidades dos países produtores e impõem exigências com impactos significativos sobre os custos e a participação de pequenos produtores no mercado europeu”.
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Segundo o ministério, as novas diretrizes dificultam o acesso ao mercado europeu de produtos brasileiros, da América Latina e de outras origens, incluindo a Ásia.
E o pedido de adiamento da lei para 2025, proposto pela Comissão Europeia e que ainda precisa ser aprovado, “reforça a importância das discussões bilaterais e a busca por soluções que respeitem a soberania dos países produtores”.
“O Brasil apresentou à União Europeia propostas de modelos eletrônicos que contemplam as etapas iniciais do EUDR, demonstrando seu compromisso com uma produção rastreável e transparente”, afirmou o governo.
O g1 questionou o ministério sobre que outras empresas teriam deixado de comprar a soja brasileira, mas não teve retorno até a última atualização desta reportagem.
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