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Carro elétrico pode ser carregado no poste? Especialistas alertam para os perigos dessa prática

Fazer um ‘gato’ no poste para carregar um carro elétrico ou híbrido plug-in pode danificar permanentemente o veículo, até causar um apagão em toda região próxima ao poste. Motorista é flagrado usando poste de energia para abastecer carro elétrico
Um carro elétrico ou híbrido plug-in, um poste e um fio entre os dois. Pois bem, essa foi a combinação que viralizou, quando um sedã apareceu com o carregador plugado direto na rede de transmissão do Rio de Janeiro.
O caso aconteceu na Zona Oeste da capital fluminense. Não é possível ver com detalhe qual é o carro, mas ele tem as linhas e as rodas muito parecidas com o BYD King, sedã híbrido plug-in da marca chinesa.
O King não é um veículo totalmente elétrico, mas precisa ser carregado para entregar a maior economia possível de combustível. No Brasil, o modelo é comercializado em duas versões:
BYD King GL: bateria de 8,3 kWh, com 32 km de autonomia no modo elétrico;
BYD King GS: bateria de 18,3 kWh, com 80 km de autonomia no modo elétrico.
De qualquer forma, os dois podem ser carregados tanto em tomada convencional de casa, ou em carregadores públicos presentes em shoppings, aeroportos e lojas. O que o sedã do vídeo fez foi ligar o veículo direto na rede — um “gato” no poste.
O g1 consultou especialistas para entender se é possível ligar um carro diretamente na rede de transmissão e quais são os riscos deste tipo de carregamento.
Carros elétricos carregamento carregador carregando carro elétrico natal rn Rio Grande do Norte
Sérgio Henrique Santos/Inter TV Cabugi
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Como funciona o “gato”?
O “gato” ocorre quando é feita uma conexão direta de rede elétrica para uma casa, comércio ou indústria, sem passar por um relógio medidor da energia. A tomada pode seguir direto para um produto, como no caso do sedã.
Além de ser um furto de energia, ele pode onerar os vizinhos.
Isso porque o valor nas tarifas de energia de todos os consumidores que fazem parte da área de concessão da Enel será afetado, ou seja, “todos pagam a conta. As fraudes e furtos contribuem para tornar a conta de luz mais cara para todos os consumidores”, informou a concessionária.
Segundo a Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), que regula o setor elétrico, isso acontece porque na composição das tarifas existem as “perdas comerciais” das distribuidoras, que são calculadas a cada mês e podem afetar as contas.
É possível carregar o carro no poste?
“Tecnicamente, é possível extrair energia elétrica de um poste de distribuição, uma vez que ele possui energia elétrica trifásica ou bifásica, dependendo da região e da infraestrutura local”, aponta Breno Henrique, engenheiro mecânico.
Este tipo ligação acontece da mesma forma como uma ligação clandestina envia energia suficiente para alimentar uma casa, equipada com aparelhos como televisores, geladeiras, computadores e carregadores de celular, mas é possível puxar apenas um fio que vai direto ao carro elétrico ou híbrido plug-in.
Porém, o engenheiro civil Giovanni Gallo aponta que, mesmo com a possibilidade de ligação direta, existem riscos na adaptação para que a energia flua entre o poste e o carro.
“Além de ser considerado furto de energia, representa um risco à segurança de pessoas e à rede elétrica”, aponta Giovanni.
“Os riscos são sérios: choque elétrico, curto-circuito, incêndio e sobrecarga na rede elétrica. Além de colocar vidas em perigo, essas ligações ilegais podem danificar equipamentos públicos e comprometer o fornecimento de energia na região,” complementa.
Thiago Castilha, diretor da E-Wolf, detalha ainda mais os danos que podem acontecer. Eles incluem “danificar a infraestrutura da concessionária, causando um apagão nas casas que estiverem conectadas naquele transformador”.
Quais são os riscos de carregar o carro no poste?
Os especialistas comentaram que os postes operam em diferentes tensões, como 220V, 440V ou mais e a ligação clandestina remove proteções típicas de instalações elétricas regulares.
Por conta da falta destas proteções, Breno diz que o carro pode sofrer danos. Eles incluem avarias severas “ao sistema de baterias, que sem o controle de tensão e corrente, oscilações, picos e quedas podem deteriorar as células da bateria, reduzindo sua vida útil ou, em casos mais graves, podem causar incêndios”.
Thiago Castilha lembra ainda que este tipo de ligação pode inviabilizar o acionamento da garantia.
“Carros elétricos modernos contam com sistemas de segurança que reconhecem quando a energia fornecida está fora dos padrões, bloqueando automaticamente a recarga. Em casos extremos, uma conexão mal feita pode danificar permanentemente o carregador embarcado ou até causar um curto-circuito perigoso”, comenta Giovanni Gallo.
O que diz a Enel?
Procurada pelo g1, a Enel comentou que “somente seus profissionais têm autorização para fazer intervenções na rede ou contato com a infraestrutura da distribuidora”.
A pena para os responsáveis pelo crime pode variar de um a oito anos de detenção. A distribuidora também cobra os valores retroativos referentes ao período em que ocorreu a irregularidade, acrescida de multa.
Neste caso, cometem o crime tanto as pessoas que executam fisicamente a fraude nas instalações quanto os titulares das contas de energia fraudadas.
“Além disso, o furto de energia compromete diretamente a qualidade do serviço prestado pela distribuidora e coloca em risco a segurança da população, especialmente de quem manipula a rede elétrica de forma clandestina”, diz a concessionária em nota.
Em nota, a BYD reforçou que o furto de energia pode causar acidentes, inclusive para os sistemas de proteção do próprio veículo.
Veja a nota na íntegra.
“A realização de ligações de energia clandestinas, além de ilegal, é extremamente perigosa. Podem causar acidentes graves e trazer sérios riscos aos bens públicos e privados.
Conectar um veículo diretamente ao poste caracteriza furto de energia e descumprimento das normas técnicas NBR 5410 e NBR 17019 que definem, respectivamente, os critérios de dimensionamento e proteção de circuitos elétricos em baixa tensão e as exigências para a correta instalação e utilização de carregadores de veículos eletrificados. O carregador – seja ele portátil, wallbox ou DC – deve ser utilizado em uma infraestrutura elétrica dedicada e com as proteções exigidas pela ABNT.
Vale ressaltar, ainda, que a BYD instrui os seus clientes a seguir as normas técnicas para a instalação e utilização dos carregadores – tanto domésticos quanto públicos.”

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