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Você sabe por que é tão difícil economizar?

Especialista em educação financeira fala sobre a importância de evitar o consumo por status social e investir naquilo que se gosta. IF
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Segundo o Mapa da Inadimplência e Negociação de Dívidas da Serasa, 70 milhões de pessoas estão inadimplentes. Embora esse dado se justifique em parte pelas adversidades econômicas, é inegável que uma fração gorda desse saldo devedor poderia ter sido evitada com boa administração financeira. Convidamos Jurandir Sell Macedo, professor de economia, consultor em educação financeira, autor e palestrante, para refletir sobre as dificuldades do brasileiro nesse campo e como enxergar a gestão do dinheiro como uma oportunidade para viver melhor.
1. Como você definiria o brasileiro em seu aspecto financeiro?
Existem três Brasis muito distintos. Nós temos um Brasil muito amplo formado por pessoas que lutam para sobreviver. Elas estão na linha da pobreza e precisam de suporte do Estado. O segundo Brasil é formado por pessoas da classe média. Em geral, elas estão gastando muito e não estão se preparando adequadamente para a aposentadoria, embora pudessem fazê-lo. Já o terceiro é o Brasil rico e restrito àqueles que fazem parte do topo da pirâmide. No entanto, a falta de dinheiro não é circunscrita apenas à classe mais baixa, ela ocorre em todas as faixas. Isso acontece quando os gastos estão acima dos rendimentos, e isso só é possível aumentando o endividamento.
2. Que fatores, sejam eles históricos ou sociológicos, explicam este perfil?
O passado de hiperinflação deixou suas marcas. Eu, por exemplo, tenho alunos de vinte anos que não sabem o que é viver nesse ambiente e que, no entanto, se comportam como se já o tivessem experimentado. Fazem isso replicando o comportamento dos pais.
3. Ter controle do dinheiro é dar adeus aos supérfluos?
Eu me oponho a abordagens que estimulam a usura. Esse conceito atrapalha o processo de educação financeira porque o associa a ideia de sofrimento. Educação financeira, na verdade, ensina a viver melhor. Por isso, quando gastamos para ter prazer, geralmente estamos fazendo um bom negócio. Gastar é ótimo, e para isso é preciso ter um bom planejamento financeiro. Assim, evitam-se os desperdícios para que seja possível gastar no que dá prazer. O descontrole acontece quando o consumo passa a ser instrumento de status social, para transparecer a ideia de sucesso do senso comum. Quando esses gastos passam a ser vistos como essenciais, geram endividamento a taxas de juros muito elevadas. É aí que o problema começa a se formar.
4. Por que as pessoas têm tanta dificuldade de falar sobre dinheiro?
Por conta das convenções sociais. As pessoas associam dinheiro a sucesso e podem se constranger quando têm pouco, sentindo-se fracassadas. Esse conceito, inclusive, é reforçado pelo discurso da meritocracia, que garante que o trabalho duro leva sempre ao sucesso. Isso, inclusive, tem gerado enorme ansiedade nos jovens. Por outro lado, se alguém pede dinheiro a um amigo rico e ele nega o empréstimo, passa a ser malvisto. Aliás, é comum que pessoas ricas nas novelas, por exemplo, sejam as vilãs.
5. O que é ter sucesso?
Parafraseio o que diz Bob Dylan: sucesso é acordar de manhã, dormir a noite e nesse meio tempo fazer o que se gosta. Em minhas aulas, eu sempre pergunto aos alunos: o que é preciso para que se sintam realizados? Sem definir o que é preciso para alcançar esse patamar, eles podem ganhar montes de dinheiro e continuarão se sentindo frustrados. Sucesso é muito pessoal e não tem a ver com listas que dizem quantos países é preciso conhecer antes de morrer.
6. Como desmitificar a ideia de que apenas quem é rico pode poupar e investir?
Olhando para a realidade. Se olharmos o número de pessoas de baixa renda que têm poupança, investimentos, entenderemos que é possível começar com pouco. Essas pessoas conseguem ter equilíbrio financeiro e progredir.
7. Você acredita que as novas gerações, mais preocupadas com a sustentabilidade que seus predecessores, também se preocupam com questões como o consumismo?
Sustentabilidade financeira é importante e ela está começando a se impregnar na sociedade. Existe uma angústia nos jovens sobre isso e esse sentimento pode gerar mudanças. Mas se a angústia for grande demais, ela deixa de ser transformadora e vira inação, impotência. E o que eu vejo em muitos jovens é exatamente esse sentimento de desesperança. É preciso construir formas de reverter esse desequilíbrio.
8. Que orientação você dá para quem quer recomeçar a vida financeira?
O primeiro exercício é saber onde se está e onde se quer chegar. Depois, é preciso entender que meios serão usados para este fim. Vale ressaltar que o dinheiro é exatamente isso, e não um fim em si mesmo. Autoconhecimento também é importante, de modo que escrever a história de vida e projetá-la para em cinco, dez e 20 anos seria muito útil. A partir desse inventário pessoal, entra a matemática, o retrato da situação financeira atual. Fazer um balanço, anotar os bens, todas as dívidas, avaliar o que é fundamental, o que é supérfluo e dá prazer e se há coisas que eventualmente possam ser descartadas. Com esse levantamento em mãos, deve-se anotar receitas e despesas. E, sim, isso é algo chato de se fazer, mas é basilar porque ninguém consegue controlar aquilo que não conhece.
9. Para você, inteligência financeira é…
Viver um degrau abaixo do que se ganha. Isso permite criar uma reserva para imprevistos e uma poupança para aposentadoria. Também é financeiramente inteligente aquele que evita o consumo de bens pelo status.
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