Anúncio reflete cenário de incertezas com o novo governo. Na reunião anterior, em dezembro, o BC norte-americano havia reduzido as taxas em 0,25 ponto percentual e indicado uma pausa no ciclo de queda de juros. Prédio do Federal Reserve dos EUA em Washington, EUA (maio/2020)
Kevin Lamarque / Reuters
O Federal Reserve (Fed, o banco central dos Estados Unidos) manteve os juros do país inalterados na faixa de 4,25% a 4,50% ao ano. A decisão unânime, anunciada nesta quarta-feira (29), veio em linha com as expectativas do mercado financeiro.
Na reunião anterior, em dezembro, o Comitê Federal de Mercado Aberto (Fomc, na sigla em inglês) havia reduzido o referencial em 0,25 ponto percentual (p.p.). Na ocasião, indicou também uma pausa no ciclo de cortes, diante de “perspectivas econômicas incertas”.
As decisões sobre os juros nos Estados Unidos geram efeitos no Brasil. Quando as taxas no país permanecem elevadas, há maior pressão para que a Selic, a taxa básica de juros brasileira, também fique alta por mais tempo. Além disso, há impactos no câmbio. (entenda mais abaixo)
O anúncio desta quarta foi o primeiro desde que Donald Trump tomou posse como 47º presidente dos EUA, no último dia 20 de janeiro. Apesar do pouco tempo, o republicano já tentou pressionar o Fed por corte nos juros.
Em seu discurso no Fórum Econômico Mundial, em Davos, na Suíça, Trump afirmou que iria exigir que as taxas do país caíssem “imediatamente”.
“Com os preços do petróleo caindo, exigirei que as taxas de juros caiam imediatamente e, da mesma forma, elas deveriam cair em todo o mundo”, disse, três dias após assumir oficialmente o cargo.
O que disse o Fomc
Em comunicado publicado nesta quarta-feira, o Fomc afirmou que os indicadores dos EUA sugerem que a atividade econômica do país continuou a se expandir em ritmo sólido.
Segundo o colegiado, a taxa de desemprego se estabilizou em um nível baixo nos últimos meses, enquanto as condições do mercado de trabalho “permanecem sólidas”. Já a inflação “continua um tanto elevada”, acrescentou o Fomc.
“O Comitê busca atingir o máximo de emprego e inflação na taxa de 2% no longo prazo. O Comitê julga que os riscos para atingir suas metas de emprego e inflação estão aproximadamente em equilíbrio”, informou.
O colegiado também reafirmou que a perspectiva econômica é “incerta” e que segue atento aos riscos.
Diante do cenário, declarou que “continuará monitorando as implicações das informações recebidas” e que está “preparado para ajustar a postura da política monetária conforme apropriado se surgirem riscos que possam impedir a obtenção das metas do Comitê”.
Efeito ‘Trump’ na economia dos EUA
Desde a corrida eleitoral norte-americana, o mercado financeiro já vinha calculando os impactos de uma possível vitória de Trump. As principais preocupações são com os efeitos da agenda econômica conservadora e protecionista prometida pelo republicano.
Em seu plano econômico, Trump prometeu, por exemplo, a elevação de tarifas para produtos importados — incluindo uma guerra comercial com a China — e o corte de impostos no país, além do endurecimento das regras de imigração.
Essas medidas são vistas como inflacionárias pelo mercado e podem — além de trazer impactos para a economia de outros países — obrigar o Fed a manter os juros elevados para conter um eventual aumento de preços.
Até agora, não foram aplicadas medidas concretas de aumento de tarifas contra a China, por exemplo, grande adversária comercial de Trump. Isso animou o mercado e se refletiu na valorização do real em relação ao dólar.
Na primeira semana do republicano no poder, a moeda norte-americana se depreciou 2,43%. E seguiu em queda, voltando ao patamar abaixo de R$ 6. Na terça-feira (28), fechou a R$ 5,86.
Reflexos no Brasil
Juros elevados nos EUA aumentam o rendimento das Treasuries, os títulos públicos americanos.
Como são considerados os produtos de investimento mais seguros do mundo, as Treasuries com rentabilidades mais altas atraem investidores estrangeiros, que encaminham seus recursos para os EUA e dão força para o dólar.
Em outra perspectiva: o movimento tende a reduzir o volume de investimentos estrangeiros no Brasil, desvalorizando o real.
Além disso, dólar em nível elevado aumenta a pressão sobre a inflação por aqui, com reflexos no ciclo de alta de juros que o Copom tem aplicado.
Choque de juros e o que esperar de 2025